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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qua | 07.10.15

Amamentar é uma coisa esquisita

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Em primeiro lugar informo que este blog respeita a decisão de qualquer mãe em amamentar ou não o seu filho. Este blog considera, ainda, que a amamentação é uma decisão da mulher e não é um factor indicativo das suas qualidades de mãe.

 

Segue a minha história:

 

Antes de ser mãe pensava que, caso um dia tivesse a ideia de me reproduzir, não iria amamentar.Parecia-me uma coisa muito animal (o que confirmei mais tarde), demasiado íntima e... estranha, muito estranha.Confesso, também, que sempre achei muito bizarro que uma mulher se pusesse a amamentar a sua criança em sítios públicos.De modo que, quando engravidei, este tema teve um destaque especial nas minhas pesquisas.Li um livro inteiro sobre amamentação, li dezenas de artigos na Internet, falei com todas as pessoas que conhecia que já tinham filhos (tendo ou não amamentado) e entendi ser de bom tom tentar. A decisão esteve mais relacionada com o facto de estar convencida de que seria o melhor para a saúde do bebé do que pela vontade extrema de amamentar.Pois que mame, decidi eu.Ainda tive esperança que, mal nascesse, a Lara se agarrasse logo às mamas como se não houvesse amanhã (embora até à altura eu não tivesse nenhum sinal de leite mas dizem que, por magia, quando é preciso ele aparece), mas não aconteceu.Tive algumas enfermeiras a manusear-me a mama, e a ensinar-me a manuseá-la, com uma série de massagens e malabarismos cujo objetivo era extrair um líquido chamado colostro (que em poucos dias se transformaria em leite) e fazer a minha filha ingeri-lo.Entre esta e aquela manobra, deram-me um mamilo de borracha para ver se a coisa se dava mais depressa. O mamilo de borracha não ajudou muito mas as senhoras insistiram nisso, de modo que acabei por ficar com duas feridas que me diminuíram consideravelmente a qualidade de vida durante um mês e meio.Depois de todos os esforços, a Lara lá mamou mas não o suficiente, por isso tomou alguns suplementos de leite no hospital.Em casa, passei a fazer à minha maneira. Deixei de usar os mamilos de borracha (também tentei de silicone com o mesmo efeito) e a amamentação começou a correr melhor. As feridas, no entanto, não cicatrizavam de forma nenhuma. Demoraram cerca de 45 dias a cicatrizar.

 

Usei creme purelan, andava de mamas de fora sempre que possível (em casa como podem imaginar), retirava o leite com uma bomba para descansar das mamadas, mas nada...

 

A coisa só começou a melhorar quando uma amiga me emprestou umas conchas de plástico, que impedem o contacto directo das mamas com a roupa.Foi complexo foi.Mas também foi caricato. E bizarro. E esclarecedor.

 

Fiquei a saber, graças à subida de leite, que quando investir nuns implantes de silicone não será numa medida muito grande.Isto porque, três dias depois da Lara nascer, tinha duas bolas de futebol no lugar das mamas. Foi... estranho. Não me ficava muito bem. Senti-me uma verdadeira Pamela Anderson.

 

Alguns dias depois melhorou um pouco e ficaram apenas maiores do que o normal.Passados uns meses, a Lara passou a mamar mais de um lado do que do outro e (isto é mesmo real) e eu fiquei com uma mama quatro vezes maior que a outra. Tinha que usar um enchimento de silicone no soutien para disfarçar. Isso foi a coisa mais estranha e mais duradoura.

 

Não se preocupem porque a assimetria passa e volta mesmo tudo ao normal. Hoje, posso assegurar-vos disso.Entretanto a Lara não ganhava peso e estive quase a dar suplemento de leite.

 

Os meus médicos (endocrinologista, dermatologista e ginecologista) aconselhavam-me a deixar de amamentar aos 6 meses.As minhas familiares mais próximas (mãe incluída) aconselharam-me desde logo a dar biberão. Seria muito menos doloroso, menos problemático e muito mais prático.Mas há alguma coisa mais prática do que sacar da mama e alimentar o filho? Assim como assim a mama está sempre por aqui, não precisa de ser esterilizada e já está na melhor temperatura possível.Devo dizer que os meus escrúpulos com a amamentação em público acabaram rapidamente. Amamentei a minha filha onde calhou e onde era preciso, sempre que ela o solicitava. Uma vez calhou a ser em cima de uns tapetes na secção têxtil do Ikea, mesmo depois de uma funcionária me ter indicado que existia uma sala própria para isso. Temos pena. A orientação nunca foi o meu forte e não consegui encontrar a a sala. Durante 25 minutos, ninguém teve coragem de ir verificar o monte de tapetes num raio de 4 metros à minha volta.

 

Não sei bem como aconteceu mas, mesmo nas piores alturas, nunca me passou pela cabeça deixar de amamentar.

 

Em casa, nunca cheguei a dar suplemento, e até aos 4 meses da Lara, ela apenas mamou. Introduzi os sólidos e ela continuou a mamar. Caiu-me metade do cabelo (ou mais) e ela continuou a mamar. Fez um ano e continuou a mamar.

 

As pessoas perguntavam, com um ar meio admirado meio reprovador se ela não era grande demais para isso mas ela continuou a mamar.

 

Mamou até querer. Com 18 meses, deixou, gradualmente, de se interessar.

 

Eu insistia. Ela ia querendo menos. Conformei-me.Amamentar é esquisito mesmo.

 

No dia em que percebi que ela estava a deixar de mamar, tive vontade de chorar.Senti-me desolada. Senti-me triste. Parecia que ela estava de malas à porta para ir para a universidade. Era como se ela não precisasse mais de mim.

 

Não sei bem como aconteceu mas, de repente, amamentar era a melhor coisa do mundo: o gesto mais perfeito, mais instintivo, mais natural, aquilo para que eu tinha nascido. De repente, eu era uma felicíssima mamífera que estava a cumprir a sua função no mundo: assegurar a sobrevivência da espécie.

 

Pudesse esta oxitocina ser engarrafada e os traficantes de droga tinham todo um novo mundo de oportunidades à sua espera.

 

Com isto tudo quero dizer que amamentar nem sempre é difícil. Existem pessoas que não sentem nenhum tipo de desconforto ou dor. Possivelmente, terei feito algo errado no inicio (estou bastante desconfiada dos mamilos de borracha) que me causou as feridas.

 

Mas, por mais difícil que seja, é muito compensador. Muito mesmo. É uma sensação inigualável.

 

Sinto-me verdadeiramente feliz por ter amamentado e teria continuado pelo tempo que a Lara quisesse.

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