Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Sab | 07.01.17

Comecei a trabalhar com 13 anos. E adorei!

tomate

 

Desde muito nova que tenho uma forma de estar na vida um bocado caricata.

 

Entrei na universidade com 17 anos e comecei a trabalhar com 13 anos.

 

No sítio onde vivia, Alpiarça, era muito comum os miúdos trabalharem durante as férias de verão em campanhas agrícolas.

 

De modo que com 13 anos, falei com os meus pais e pedi para ir trabalhar na apanha do tomate. O meu pai não achou muita piada. Receava que eu queimasse as orelhas (juro!) o que, de facto, veio a acontecer e achava que era muito nova (embora ele próprio tivesse começado a trabalhar com 11 anos), mas não se opôs. A minha mãe achou muito bem e lá fui eu.

 

Ganhávamos de acordo com o número de caixas que apanhávamos e eu nem parava à hora de almoço. Comia rapidamente e continuava a trabalhar. Não me custava nada e estava a adorar a ideia de ter o meu próprio dinheiro.

 

Posso dizer que, para além de ter sido uma experiência fantástica da qual me recordo sobretudo das manhãs em que partíamos para o campo, ainda de madrugada, e do cheiro a terra molhada e tomate maduro. Adorava aquele cheiro do campo, gostava da companhia das pessoas que conhecia bem, onde se incluíam outros miúdos como eu, e na altura considerava muito justa a forma de pagamento em que ganhávamos exatamente de acordo com o que produzíamos. Trabalhávamos mais, ganhávamos mais o que me motivava grandemente e me dava uma energia imensa, como podem imaginar. Nem me lembro de alguma vez andar cansada (bem... tinha 13 anos o que também deve ser relevante de alguma forma).

 

Continuei a trabalhar em campanhas agrícolas durante alguns anos até me apetecer experimentar outras coisas. Trabalhei em vários sítios até acabar a universidade, sempre sem necessidade porque os meus pais me pagavam os estudos, mas porque queria ter o meu próprio dinheiro e achava que me podia ser útil conhecer o mundo do trabalho antes de ter realmente necessidade de trabalhar para viver. Hoje sei o valor que esse conhecimento teve. É algo sem preço.Entretanto, quando andava no 3º ano da universidade, com 20 anos, tive o meu primeiro trabalho realmente mau. Era operadora de caixa num hipermercado grande. Como estudava durante a semana, trabalhava todos os fins de semana e feriados. Fiquei lá um ano e detestei cada segundo daquele emprego.

 

Na altura estava a fazer boicote ao romance e não tinha muito que fazer com o meu tempo livre por isso decidi ocupá-lo a trabalhar. Nesse ano também tive um aproveitamento escolar bastante bom, pelo que posso afirmar que os namoros atrapalhavam-me mais os estudos que o trabalho. :)

 

Foi nessa altura que percebi que lidar com pessoas todos os dias é um dos trabalhos mais duros que existem. Admiro imenso quem aprecia realmente o atendimento ao cliente e o faz bem. Acredito que eu o fazia bem. Mas, como acontece muitas vezes, nem sempre o nosso rosto é o reflexo da nossa alma e apesar de fazer um esforço por estar sempre sorridente e simpática para todos, aquele trabalho era odioso.

 

Estávamos à mercê de qualquer pessoa mal disposta que resolvesse despejar as suas frustrações em cima da "empregada de caixa" e encontrava todo o género de gente mal formada e desagradável. Depois eram os D. Juans que ficavam ali a chagar nas horas em que não tinhamos ninguém com o todo o tipo de galanteios do século passado.Depois existiam as colegas parvas. Felizmente a maior parte das pessoas são muito queridas e simpáticas mas existe sempre um conjunto de mulheres (são quase sempre mulheres) que, por algum motivo, parecem ter um pavor enorme de ti e tiram 3/4 do dia para te chatearem, principalmente quando são as tuas supervisoras. Deixam-te 6 horas seguidas na caixa sem possibilidade de ir ao wc (só se implorares muito), agem como se fosses uma imcompetente do pior se te faltarem 4 euros na caixa, mesmo que nesse dia te tenham passado milhares de euros pelas mãos e não perdem uma oportunidade de te enxovalharem em frente aos clientes porque passaste um produto duas vezes e precisaste que elas fossem anulá-lo.

 

Durante o tempo em que lá trabalhava, deu-se a mudança do escudo para o euro e foi nesse momento que aprendi a fazer-me de burra como método de sobrevivência no trabalho. Aprendi a fazer a conversão com a rapidez normal que, por acaso, era bastante superior à de uma supervisora. Cometi o erro da corrigir e já nem me lembro do que aconteceu a seguir mas sei que, depois disso tive que fingir muitas vezes que ela me estava a ensinar qualquer coisa e aprendi a calar-me sempre que a via a fazer disparates e a dizer coisas absurdas. Ali ninguém podia saber mais do que ela. Nunca gostei de ser a mais inteligente da sala, muito pelo contrário. Se for a menos inteligente de uma sala estou em clara vantagem porque serei a que mais tem a aprender e a ganhar. Gosto de me rodear de pessoas que me inspiram e têm muito que me ensinar. Ali, aprendi que não existem muitas pessoas assim.

 

Depois de considerar que já tinha passado o tempo suficiente naquele laboratório social, decidi não renovar o meu contrato. Já tinha aprendido o suficiente e estava na hora de procurar experiências diferentes.Ainda hoje não consigo entrar naquele hipermercado. Fico meio zonza e fisicamente mal disposta. Já passaram quase 15 anos mas ainda me lembro do bip bip dos códigos de barras a passar no leitor, que continuava a ouvir de madrugada e me impedia de dormir, do trabalho absurdamente repetitivos e pouco criativo que me deixava de neurónios colados e da primeira abordagem à mesquinhez humana que tive na vida laboral.

 

Foi por ter tido este trabalho que sei apreciar muito o que faço hoje, os colegas de trabalho que tenho e o sentimento de entrar numa segunda casa quando entro no escritório. Isso e gostar verdadeiramente do que faço. Não há absolutamente nada mais importante que isso. Existem coisas muito importantes que ainda me fazem falta, é verdade, mas o mais importante de tudo, está lá.

Sab | 07.01.17

Velvet Goldmine

velvet goldmine.jpg



Mais do que uma história, Velvet Goldmine é uma viagem alucinante pelo ambiente musical do chamado “Glam Rock” vivido em Londres no início dos anos 70. Nesta época, como não podia deixar de ser, a revolução musical estava intimamente ligada a uma revolução na cultura e nos valores vigentes.

Depois dos anos 60, dos Hippies e das flores, surge a liberdade sexual e a liberdade provocante de exibir comportamentos e estilos de vestir e de estar de uma grande ambiguidade sexual. Os grandes ídolos do pop rock passaram a pintar-se, a usar botas de salto alto, muita purpurina e lantejoulas, tudo o mais brilhante e colorido possível de forma a passar uma imagem andrógina e exuberante ao mesmo tempo. A música acompanhava o novo estilo, com letras provocantes e exibições em palco que deitavam abaixo qualquer regra moral.

Nesta obra, as personagens são ficcionais, prevalecendo apenas as músicas, verdadeiros ícones do Glam Rock, tocadas em versões de diversos artistas actuais como alguns elementos dos Radiohead e outros ligados a bandas da época como os “Roxy Music”. No entanto, os personagens Brian Slade e Curt Wilde, magnificamente interpretados por Jonathan Rhys-Meyers e Ewan McGregor são indubitavelmente inspirados nas performances de David Bowie e Iggy Pop nos anos 70. Desta forma, o imaginário e poder criativo do realizador juntou-se à realidade musical do pop-rock e pós-punk da época dando origem a este filme delicioso.

A estrutura do enredo foi criada de uma forma bastante hábil e relativamente simples: começa com o nascimento de Orson Wells e um broche verde que surge no cobertor do bebé e vai acompanhando toda a história e vários personagens como o símbolo do acto de sonhar (e, segundo Curt Wilde da imagem e do estilo).
A figura através da qual o nascer e desmoronar de uma estrela de rock é contada, é um jovem fã de Glam Rock, Arthur, que se torna jornalista e, 10 anos depois da saída de cena de Brian Slade (após simular o seu próprio assassinato em palco) é encarregue de fazer uma reportagem sobre o paradeiro da velha estrela.
Arthur, irrepreensivelmente interpretado por Christian Bale, desfia a história do Glam Rock na pessoa de Brian Slade, enquanto inevitavelmente é confrontado com o seu próprio passado, onde se cruza com as personagens da sua própria história. Arthur revê uma adolescência onde descobriu uma homossexualidade num ambiente de revolta e incompreensão por parte dos pais mas também num ambiente de sonho embriagante, alimentado pela admiração que sentia pelos artistas da época e a sua vida repleta de mistério e glamour.

Não poderia destacar uma só cena deste filme, pois são todas bastante interessantes e cada uma tem a sua beleza muito própria, mas destaco a excelente banda sonora e figurino. Não posso deixar de sublinhar mais uma vez as excelentes interpretações de Ewan McGregor, Jonathan Rhys-Meyers, e também de Toni Collette e Christian Bale e a forma sensível e verdadeiramente artística como o autor desenvolveu a relação dos 4 personagens interpretados por eles.

Devo confessar que quando percebi que Brian Slade ia ser interpretado por Jonathan Rhys-Meyers (que estou habituada a ver como o másculo Henry VIII na série “Os Tudors”) achei que não ia resultar mas, a forma como ele vestiu aquele personagem, a ingenuidade que lhe imprimiu nos primeiros tempos e a forma como ele e Ewan McGregor vivenciaram o seu romance foi simplesmente comovente…

Sou profundamente suspeita pelo apego que tenho ao estilo de música que constitui a banda sonora do filme mas, este é, sem dúvida, um musical muito bem conseguido. As músicas encaixam como uma pele em cada cena e embalam o filme como um sonho pleno de cenários brilhantes, misteriosos e irresistíveis.